Doença de Alzheimer: como agir?

A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença progressiva em que as células cerebrais começam a se degenerar e morrer, gerando prejuízos de memória e declínios na função cerebral, o que, consequentemente, afeta todos os sistemas do corpo humano.  Devido às especificidades do seu quadro, tem impacto não somente no portador mas nos seus familiares e/ou rede de suporte. Diante disso, será que todas as pessoas sabem a melhor forma de agir perante a essa situação? No artigo de hoje, iremos falar um pouquinho sobre como pequenas atitudes podem ter grande importância nessa situação.

 

Para o portador:

    Primeiramente iremos abordar o principal elemento nesse cenário: o portador em si. Assim como para várias situações da vida, é importante criar uma rotina com o portador no intuito não somente de fazer senti-lo seguro, mas de facilitar as atividades a serem realizadas (muitas vezes por vários membros da família ou até mesmo por pessoas que não conviveram uma vida toda com o paciente, como por exemplo, o cuidador de idosos). É importante que, dentro dessa rotina, a pessoa com Alzheimer seja estimulada a manter sua independência dentro dos possíveis padrões, visto que, a partir do diagnóstico a doença é iniciado um caminho com uma série de declínios pela frente – porém esse caminho NÃO É IMEDIATO. O que significa que a supervisão deve estar sempre presente, porém o auxílio e o ato de fazer determinada tarefa pelo indivíduo devem ser inclusos somente se não houver capacidade de realização da parte do portador, o que irá manter ou até mesmo aumentar sua autoestima e fazer com que as pessoas que estão responsáveis por seus cuidados também entrem nesta esfera de maneira gradual e pacífica.

    Como as mudanças são significativas, é comum e necessário que os detalhes do caso sejam discutidos entre aqueles que partilham tal situação. Porém, isso de forma alguma deve ocorrer na frente do portador, pois assim como as outras pessoas, no estágio inicial ele também estará ciente das mudanças que estão ocorrendo em seu organismo, o que naturalmente já causa uma gama de emoções. Por isso, não se deve esquecer que o indivíduo com Alzheimer tem sentimentos que devem ser respeitados, e apesar de todas as circunstâncias que vêm a ocorrer com o desenrolar do quadro, haverá momentos (mesmo que curtos) em que ele terá total ciência de onde e com quem está. Por esses motivos, deve-se evitar situações desconcertantes ao paciente, como por exemplo rir de algo que ele tenha feito. O senso de humor deve ser mantido sim por àqueles à sua volta, porém sempre de maneira respeitosa – NÃO ria DELE, ria COM ELE! Pois por mais que uma situação pareça engraçada aos olhos de quem está de fora, ela pode não ser para a pessoa que está envolta nela. Por isso é sempre bom se perguntar: “será que estarei rindo dele ou rindo com ele de algo em comum?” – é certeiro de que se tratar de algo em comum será muito produtivo e o estresse e a agitação serão diminuídas.

  A comunicação com o portador também é muito importante. Para isso, é sempre bom dialogar de forma pausada, frente a frente, olhando nos seus olhos e demonstrando carinho e compreensão (atente-se à linguagem corporal). Evitar confrontos é algo primordial, visto que podem aumentar a agressividade, irritabilidade e ansiedade do portador. Por isso, é sempre bom ter em mente que a ocorrência de determinados episódios não são sua culpa, mas do Alzheimer em si. Por isso, as perguntas feitas devem ser bem direcionadas e simples, que possibilitem respostas diretas da parte do indivíduo como “sim” ou “não”. Por exemplo: ao invés de perguntar: “o que você gostaria de comer no jantar?” pergunte diretamente: “você quer macarrão?”.

Além disso, encoraje-o! Tente incentivá-lo a continuar fazendo coisas que eram do seu agrado e que são plausíveis de serem realizadas e o estimule a praticar exercícios físicos (caso não praticasse anteriormente, estimule-o a iniciar – porém com supervisão). Não é segredo que o bem-estar físico está diretamente ligado ao bem-estar mental e às questões de autoestima e segurança de si. Além disso, as habilidades mentais podem ser preservadas por um tempo maior. Por fim, mantenha o ambiente seguro. Com a dificuldade motora e a déficits de memória o risco de quedas pode aumentar (queda é definida não somente como o ato de cair ao chão, mas o desequilíbrio em si já é considerado uma queda) e a partir disso outras doenças podem surgir e piorar o quadro já existente. 

  São muitas informações, não é mesmo? Mas fique tranquilo! Fizemos um check list com tópicos que irão ajudar nas pequenas atitudes a serem tomadas:

  • Ambiente seguro,
  • Criação de rotina,
  • Supervisão,
  • Respeito,
  • Comunicação clara,
  • Encorajamento,
  • Manter o senso de humor mútuo,
  • Não discussão do quadro na frente do portador.

 

Para a rede de suporte (cuidador):           

    A rede de suporte do portador de Alzheimer pode ser bem ampla no sentido de denominações. Independentemente de ser cuidador informal (familiares ou outras pessoas próximas que se responsabilizam pelo cuidado do indivíduo com Alzheimer) ou cuidador formal (profissionais contratados cuja função é exercer o cuidado com o portador) é de suma importância estar ciente de que todo tipo de cuidado demanda muito daquele que exerce tal função. Inicialmente, vale ressaltar que toda a pessoa que passa por tal situação precisa ser ouvida e tem a necessidade de informações e troca de experiências com aqueles que passam ou já passaram por algo semelhante.

      A ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer) exerce um papel significativo nesse contexto por se tratar de um núcleo que oferece informação e grupos de apoio àqueles que se encontram em tal situação. A associação se encontra presente em todo o Brasil e conta com profissionais da área da saúde, da área jurídica, da educação, voluntários e familiares de pessoas com a Doença de Alzheimer. Além disso, é sempre bom encarar a realidade do momento no sentido de que apesar da intenção, o cuidador não conseguirá atender a todas as necessidades do portador, mesmo que todas as coisas feitas à ele sejam realizadas com excelência. Isso significa que, é necessário muita atenção consigo mesmo para manter a qualidade de vida e consequentemente conseguir proporcionar um cuidado melhor à pessoa com Alzheimer. – nenhum indivíduo que não está saudável física ou psicologicamente consegue realizar uma função que demande tanto de si. É comum nesse caso se deparar com sentimentos ruins como raiva, tristeza, angústia, ansiedade e etc. Tais sentimentos devem ser sentidos e encarados com normalidade. A presença deles não faz   do cuidador um cuidador ruim, pelo contrário, demonstra que é um ser humano e que está a par do desenrolar da situação. Para amenizar tais fatores, é necessário que o cuidador em questão não se prive de sua vida pessoal. É sempre válido buscar por vivências positivas e satisfatórias dentro da esfera com o indivíduo que possui Alzheimer assim como com outras pessoas. Para isso, também fizemos um checklist de forma com que as ideias fiquem mais claras na hora de tentar coloca-las em ação:

 

  • Rede de apoio é importante sim!
  • Cuidado pessoal não pode ser deixado de lado,
  • As emoções ruins devem ser sentidas.

 

 

“Meus ontens estão desaparecendo e meus amanhãs são incertos. Então, para que eu vivo? Vivo para cada dia. Vivo o presente. Num amanhã próximo, esquecerei que estive aqui diante de vocês e que fiz este discurso. Mas o simples fato de eu vir a esquecê-lo num amanhã qualquer não significa que hoje eu não tenha vivido cada segundo dele. Esquecerei o hoje. Mas isso não significa que o hoje não tem importância.”

– Filme: Para Sempre Alice.

Fonte: Beatriz Lavelli
Referência: BRASIL. O que é a Doença de Alzheimer. Ministério da Saúde. 2001.

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